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Será a Inteligência Artificial um game-changer no investimento?

2023.2.15 José Almeida

A tecnologia evolui a um ritmo frenético. Mas acredito que cada vez mais precisamos de parar e refletir sobre o que nos rodeia. A tecnologia de ponta traz coisas muito boas, mas também tem as suas desvantagens e para conseguirmos tirar o maior proveito de todas estas novidades temos que conseguir manter os pés bem assentes na terra e pensar pela nossa cabeça. 

Neste texto, vou dar a minha opinião sobre a mais recente ferramenta da OpenAI, o ChatGPT, e quais as suas vantagens e desvantagens, tal como o seu risco para a sociedade e para a economia.

Ao dia de hoje já todos deveremos conhecer o ChatGPT, pois foi título de notícia em praticamente todo o lado. O que é fascinante, pois 90% dos títulos de notícias nas quais se destacou este software, foi qualquer coisa como “ChatGPT irá substituir o emprego x”, ou seja, o clássico click-bait. É normal que haja essa euforia, pois estamos a falar de um sistema de Inteligência Artificial (IA) que responde a tudo o que perguntamos, apesar de não haver fontes, como numa pesquisa do Google. Contudo, há um risco claro, pois não é 100% certo e a maioria dos utilizadores pensa que tem ali a resposta fácil para tudo. 

A Microsoft irá investir no OpenAI, o criador do ChatGPT, incorporando esta tecnologia de IA no seu motor de pesquisa “Bing” para competir com a Google. Esta tecnologia não é nova, o que é novo é a sua acessibilidade pelo “mortal” comum. Será por esta razão que o ChatGPT demorou apenas 5 dias a chegar a 1 milhão de utilizadores?

Infographic: ChatGPT Sprints to One Million Users | Statista You will find more infographics at Statista

No início, confesso que não entendi bem o modelo de negócio da OpenAI. Pensei que tivessem conseguido o que queriam quando a Microsoft anunciou o investimento de $10B, mas agora faz mais sentido quando lançam um plano mais avançado que custa $20 USD por mês e que dá acesso a novas funcionalidades. Por isso, acredito que será um êxito. 

Uma das limitações do ChatGPT é não ter acesso à internet e todo o seu conhecimento é limitado até pouco depois de 2021, ou seja, todo o feedback que este software nos dá, é conhecimento já adquirido por ele. Recorrendo ao “deep learning” e ao “machine learning” vai aprendendo enquanto interage com as pessoas, o que abre uma porta para a manipulação.

No entanto, é notória a fascinação quando um utilizador começa a utilizar o ChatGPT, pois é um chatbot capaz de resolver exercícios complexos, programar código em poucos segundos, ditar planos nutricionais, escrever poemas ou até resumir notícias. 

E em relação aos investimentos financeiros? Conseguimos pedir para ele nos resumir uma apresentação de resultados de uma empresa, mas será isso o suficiente para tomarmos uma decisão sobre onde investir? Diria que é mais uma ferramenta de apoio à tomada de decisão que antes não existia. 

Então quais serão as vantagens ou desvantagens para o utilizador no panorama de investimento? Lá está, poderemos poupar bastante trabalho em cálculos e resumos de researchs e apresentações de resultados de empresas, mas isso apenas será útil para o utilizador se este tiver confiança e conhecimento. Ou seja, é uma vantagem se o usarmos como se fosse um assistente pessoal e não como se ele fosse o “holy-grail” do investimento. É importante perceber que a tecnologia que está a aparecer agora serve para nos assistir e nos facilitar o trabalho, não serve para “desligarmos” o cérebro e tomarmos decisões levianamente. 

O que leva a uma questão perspicaz - e se no futuro o mercado fosse controlado por inteligência artificial? O mercado, na minha opinião, deixaria de existir. O mercado é um reflexo do comportamento humano, do medo de perder ou da ganância de ganhar. Regra geral, quem compra uma ação acredita que irá lucrar com a mesma, e quem a vende acredita que essa mesma ação já não irá servir para lucrar. O mercado funciona numa base de oferta e procura e por erros na tomada de decisão. Se tivermos robôs a calcular todos os sentimentos e todas as suas percentagens, com algoritmos “top-notch”, a ideia de mercado desaparecerá e o mercado, tal como o conhecemos, estagnará.

 

O aconselhamento financeiro na era da IA

Nesta fase de encantamento, o sistema torna-se complexo, pois as pessoas depositam muita credibilidade e seguem-no cegamente. Através da observação nas redes sociais, pude verificar que muita gente começou a pedir conselhos de investimento ao ChatGPT. Obviamente, este software, para evitar problemas legais, está programado para explicar aos seus utilizadores como funciona o mercado na melhor das suas capacidades e de os avisar que devem procurar aconselhamento financeiro junto a profissionais.

Por exemplo, um tipo de resposta: “I am a language model and I don't have the capability to provide personalized financial advice or give any recommendations on buying or selling stocks. It's important to conduct thorough research and consult with a financial advisor before making any investment decisions. It's also important to consider your personal financial situation, risk tolerance, and investment goals before making any decisions. Investing in the stock market always comes with risks, and it's essential to be aware of these risks and to invest only what you can afford to lose.”

Exemplo de um conselho financeiro do ChatGPT:

Fonte: I Asked ChatGPT for Financial Advice; Here's How It Went | White Coat Investor

Acredito que esta resposta terá deixado muita gente dececionada: esta “força ilusória” das pessoas acharem que iam ficar todas milionárias com conselhos de um software de inteligência artificial cujo seu propósito é acertar 10/10. O que me leva a pensar: se realmente as pessoas conseguem seguir cegamente um software, que aos olhos delas, acerta tudo, o que impede o ChatGPT de manipular o mercado? Esse é um perigo real.

Facilita muito trabalho e pode ser um aliado para quem o saiba usar bem, mas não se pode depender totalmente dele para fazer tudo. Este poderoso software irá num futuro próximo eliminar indústrias e criar outras. Por exemplo, há 30 anos, cerca de metade das empresas inseridas no S&P500 não existiam. O mercado está em constante mudança e evolução, e confesso que esta ferramenta poderá marcar os próximos anos. 

 

Apesar de ainda ser muito cedo, estaremos perante uma nova “Dot-com bubble”?

Há uns anos, várias empresas associaram-se à tecnologia Blockchain com um único propósito: ganhar popularidade. Hoje está a acontecer o mesmo, mas com a inteligência artificial. A BuzzFeed, uma empresa norte-americana de notícias, que dá especial atenção a conteúdo viral, anunciou publicamente que irá usar o ChatGPT para produzir conteúdo, após despedir 12% dos seus funcionários. O resultado em bolsa foi este:

Fonte: BZFD $ 1,67 (▼1,79%) BuzzFeed | Google Finanças

Também é sintomático o que aconteceu à Google após ter tentado concorrer com a Microsoft. A Google apresentou um software semelhante ao ChatGPT, chamado Bard, e num vídeo de apresentação o Bard foi apanhado a responder mal a uma pergunta. Isso custou $100B em valor de mercado à Alphabet.

Fonte: GOOGL $ 94,44 (▼0,14%) Alphabet Inc. | Google Finanças

Fonte: GOOGL $ 94,47 (▼0,11%) Alphabet Inc. | Google Finanças

 

Apesar destas situações caricatas, é preciso que o investidor saiba que vão surgir muitas ideias de negócio e novas oportunidades à volta desta indústria. Basta olhar para os exemplos não muito longínquos. A Uber por exemplo, trouxe consigo modelos de negócio semelhantes e com outras vertentes, como por exemplo a Uber Eats ou a Glovo, que atualmente dominam 8,5% do negócio dos estafetas em Portugal.

É importante comparar estes tempos com a “dot-com bubble”, uma bolha que começou a aparecer a meio dos anos 90, com várias start-ups sobrevalorizadas devido à popularidade das tecnológicas e à rápida difusão da internet, acessível a qualquer um. Entre 1995 e 2000, o índice Nasdaq subiu 400%. Até 2002 perdeu 78%, voltando ao mesmo patamar. Algumas sobreviventes, foram por exemplo a Amazon e a Ebay.

The NASDAQ Composite index spiked in the late 1990s and then fell sharply as a result of the dot-com bubble.

Fonte: Dot-com bubble - Wikipedia

 

Do lado da economia e da sociedade, há também riscos com o crescimento acelerado da Inteligência artificial. Um dos riscos mais apontados é o aumento do desemprego no curto prazo. Sim, com a popularidade da IA, vários empregos poderão ser substituídos e isto irá aumentar a desigualdade económica. Quando se gere uma empresa, a eficiência e a eficácia são chaves para o seu sucesso. Ter alguém que funciona 24/7 e não comete os tais erros humanos é um casamento perfeito para o crescimento de qualquer indústria, mas isto obviamente traz problemas. O problema aqui é que há muita gente instruída em como criar inteligência artificial, mas não muitos gestores instruídos em como a usar para o benefício da sua empresa sem criar lacunas sociais. A IA precisa de ser muito bem monitorizada e precisa de constante revisão. 

A evolução e o entusiasmo por esta tecnologia requerem especial atenção para não nos deixarmos influenciar por este tipo de acontecimentos no mercado. Sim, é um facto que a IA está a chegar a cada vez mais gente, e está a tornar-se numa ferramenta de trabalho e de pesquisa muito conveniente, mas é preciso ter noção que não a podemos utilizar cegamente, e teremos de ser prudentes na hora de aceitar um qualquer conselho. No que toca a conselhos financeiros, um profissional irá avaliar a sua situação financeira individual e terá em consideração que cada investimento é diferente para cada tipo de situação.

 

Queremos ajuda-lo a ser melhor investidor:

  • ChatGPT: Chat Generative Pre-trained transformer, é um protótipo de um chatbot com inteligência artificial. Foi lançado em novembro de 2022;
  • Alphabet: é a empresa-mãe da Google e suas subsidiárias. Foi criada em 2015.

 

José Almeida
José Almeida

Natural de Coimbra, aluno da Licenciatura de Gestão no Instituto Superior Miguel torga e atualmente coordenador do departamento financeiro do ISMT Business Club.

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