Outros fatores a considerar no cálculo do Retorno de Investimento
Examinar as características do retorno de investimento de um ativo ou de uma carteira de investimento é um dos passos essenciais na procura da carteira ideal. O investidor inteligente deve procurar sempre o seu portefólio ótimo.
Por isso, começamos esta série de artigos pela forma como se calcula esse retorno. Passamos depois para as características e diferenças essenciais entre o retorno da média aritmética e da média geométrica e as suas implicações na tomada de decisão. Abordamos também as taxas de retorno anualizadas e os retornos ponderados pelo tempo ou pelo dinheiro.
Neste artigo vamos abordar outras medidas de retorno específicas de determinados ativos, como os fundos de investimento, e outras considerações e fatores como a inflação, os impostos ou a dívida, que podem resultar em diferentes aplicações e interpretações da rentabilidade de um ativo.
Retorno líquido e retorno bruto
Quando referimos rentabilidade líquida ou bruta estamos a ter em consideração o efeito dos custos de gestão e outras despesas relacionadas com a gestão e administração de um investimento.
Esta designação é muito comum em fundos de investimento, PPR, fundos de pensões, fundos de capital de risco e outras formas de investimento coletivo onde há uma sociedade gestora e o qual os investidores utilizam para se expor no mercado de forma diversificada e eficiente em diferentes regiões, setores ou temas.
Nestes custos estão incluídos:
- Custos ou fees de gestão do veículo de investimento
- Comissões de custódia e depósito
- Impostos cobrados dentro do fundo ou veículo de investimento
O retorno bruto é o retorno obtido pelos gestores de ativos e é uma medida importante e adequada para avaliar e comparar a sua capacidade de gestão face a concorrentes ou investimentos alternativos pois não inclui os custos de gestão. Estes custos são normalmente cobrados em percentagem dos ativos sob gestão e dependem do montante desses ativos, do tipo de classe de investimento e do estatuto fiscal do investidor.
Por outro lado, o retorno bruto já tem em consideração os custos de transação (como os custos de compra e venda de ativos), pois estes custos contribuem diretamente para a performance do gestor.
Dizemos que o retorno é líquido quando é apresentado já depois de deduzidos estes custos e comissões de gestão. O retorno líquido é o retorno que um determinado investimento (fundo de investimento, por exemplo) rendeu a um investidor individual.
Assim:
- Retorno bruto é importante para efeitos de comparação entre gestores e avaliação das suas capacidades e atributos de gestão
- Retorno líquido é o retorno obtido pelo investidor após deduzidos todos os custos, despesas e comissões.
Retorno antes de impostos e depois de impostos
Ao longo destes artigos sobre o cálculo do retorno de um investimento temos assumido como pressuposto que o cálculo é antes de impostos, ou seja, sem termos em consideração o imposto que o investidor poderá pagar e que incide sobre a rentabilidade obtida.
Assim, sublinhe-se, quando vemos uma taxa de rentabilidade devemos assumir que é uma taxa nominal e antes de impostos.
Para calcular a taxa de rentabilidade depois de impostos temos de saber qual a taxa de imposto que incide sobre os rendimentos de mais valias e rendimentos de capitais (como os juros e os dividendos). A verdade é que estes impostos podem ser taxados de forma diferente dependendo do país ou jurisdição onde o investidor se encontra e também do montante dos rendimentos no caso de assumirmos a possibilidade do englobamento e do tipo de investidor (individual ou empresa).
Dada a especificidade deste assunto e a diversidade de situações, cada investidor deve ter um conhecimento profundo da sua situação fiscal e procurar ajustar os seus investimentos nesse sentido para obter o retorno ótimo depois de impostos. Uma correta gestão fiscal pode ter um grande impacto no retorno final.
Os impostos são pagos depois de realizadas as mais valias e distribuídos os rendimentos de juros e dividendos, por isso, pode ser importante reduzir o volume de transações e os investimentos que proporcionem melhores condições fiscais.
Retornos reais e nominais
Num momento de grande impacto da inflação, os conceitos de retorno nominal e retorno real ganham significado acrescido.
O retorno nominal, aquele que é mais habitual e que é o disponível por defeito, consiste em 3 componentes:
- Retorno real sem risco ou taxa de juro sem risco, para compensar a decisão do investidor em adiar consumo;
- Inflação, para compensar pela perda de poder de compra;
- E um prémio de risco, para compensar o risco assumido no investimento.
Se juntarmos o retorno real sem risco e o prémio de risco obtemos o retorno real do investimento. A componente inflação é a diferença entre o retorno real e retorno nominal.
Assim, se esperamos um retorno do investimento de 5% e uma taxa de inflação de 3%, o retorno nominal é igual a 8% (5% + 3%) ou, de uma forma mais correta matematicamente:
Retorno nominal = (1 + 5%) x (1 + 3%) – 1 = 8,2%.
Retorno real = 5% ou, se tivermos o retorno nominal e a taxa de inflação esperada,
Retorno real = (1 + 8,2%) / (1 + 3%) – 1 = 5%.
O retorno real é importante para as comparações ao longo do tempo pois a taxa de inflação pode ser muito variável. É também fundamental quando comparamos retornos em diversos países, especialmente em países com moeda diferente e com diferentes níveis de inflação, como é o caso dos países emergentes.
Se o retorno nominal for inferior à taxa de inflação significa que o retorno real é negativo e que não estamos a ser compensados pelo aumento do custo de vida.
A componente fiscal é também importante neste conceito de retorno real. Os impostos incidem sobre os retornos nominais o que significa que podemos estar a ser tributados por retornos reais negativos.
O retorno real após impostos é, por isso, uma métrica fundamental na esfera do investidor individual. Este retorno, tipicamente, não é apresentado pelos gestores de ativos pois o seu cálculo depende de cada investidor individualmente e da sua efetiva situação fiscal.
Retorno alavancado
Temos vindo a assumir que o investidor recorre apenas a capital próprio para investir. No entanto, sabemos que é habitual em determinados ativos o recurso a dívida. Por exemplo, no caso do investimento imobiliário é normal o investidor recorrer à alavancagem financeira, com a dívida a assumir, muitas vezes, mais de 50% do valor do investimento.
Também é frequente vermos o recurso a contas margem para investir em títulos como ações e obrigações e também em fundos de investimento e ETF. A alavancagem, neste caso, chega a ser de 2 ou 3 vezes o valor do capital próprio e até de 10 vezes se formos para produtos financeiros derivados, como futuros.
Esta situação alavanca o retorno total, mas também, de igual modo, o risco de perda.
Imagine o seguinte cenário:
- Investimento total de 10.000 €
- Capital próprio 5.000 €
- Dívida 5.000 €
- Valor do investimento no final do período: 8.000 €
Qual o retorno do investimento?
De facto, o investidor perdeu 2.000 €. Face ao capital próprio investido, chegou ao final do período com apenas 3.000 €, depois de pagar a dívida.
O retorno do período líquido da dívida foi de -40%.
Se fizermos o cálculo tendo em consideração o valor do investimento inicial e final o retorno, ou seja, retorno bruto para o investidor foi de -20%. Quer isto dizer que o recurso a alavancagem duplicou o retorno do investimento. Neste caso, duplicou o valor da perda.
Conclusão
O assunto do cálculo da rentabilidade parece um assunto menor e de pouca importância, no entanto, pode significar análises enviesadas e decisões incorretas.
Na análise da sua carteira de investimento junto do seu intermediário financeiro ou analisando ativos como fundos de investimento, PPR ou ETF procure saber sempre qual o tipo de retorno apresentado e quais os pressupostos assumidos.
Queremos a ajudá-lo a ser melhor investidor:
- Ajudamos a desenvolver a sua Declaração de Política de Investimento;
- Desenvolvemos formação individual ou em grupo sobre investimentos e poupança;
- Analisamos de forma quantitativa o seu portefólio atual com a tecnologia e finanças computacionais do Future Analyzer;
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Vítor é um CFA® Charterholder, empreendedor, melómano e com um sonho de construir um verdadeiro ecossistema de investimento e planeamento financeiro ao serviço das famílias e organizações.
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