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Finanças comportamentais 101 - Excesso de confiança

2020.9.28 Luis Silva

Uma boa parte das pessoas são excessivamente confiantes. Essa confiança leva as pessoas a sobre estimar o seu conhecimento e a sua capacidade de controlar os resultados de investimentos assim como a subestimar os riscos.

Num conhecido estudo(1) foi feito um questionário a alunos de uma universidade sobre se achavam que a sua capacidade de condução era superior à média. 82% dos alunos acharam que conduziam melhor que o condutor mediano, algo que é estatisticamente impossível.

Em muitos aspectos da nossa vida esse excesso de confiança não tem impactos negativos e poderá até ser positivo. Dificilmente haveria tanta inovação ou novos negócios se as pessoas não arriscassem e tivessem a confiança necessária para o fazer, desde um novo café até à SpaceX(2).

Contudo, o problema é quando esse excesso de confiança enviesa as nossas decisões. Quando achamos que independentemente de todas as provas em contrário vamos conseguir um retorno muito acima da média, levando a mais transações nas carteiras(3) e potencialmente mais erros.

Outro problema que advém de excesso de confiança é ignorarmos tudo (ou uma parte significativa) do que está em oposição à nossa visão de nós mesmos. Assim, quando os nossos investimentos correm bem atribuímos os resultados à nossa boa capacidade de análise, mas quando correm mal acabamos por culpar a “irracionalidade” dos mercados.

Não se sintam mal se isso já vos aconteceu. Estão em boa companhia. Quer Isaac Newton(3), quer Keynes(4) já justificaram perdas nos investimentos dessa forma.

 

O problema é quando esse excesso de confiança enviesa as nossas decisões.

 

Mas não é apenas nos retornos, ou na tentativa e obtenção de maiores retornos, que o excesso de confiança pode complicar a vida a um investidor. Se o investidor assumir que aceita mais risco do que aquele que na realidade se sente confortável poderá fazer com que os alicerces onde o plano de investimento está assente sejam baseados em pressupostos errados. Isto poderá não só levar a vendas nos momentos mais inapropriados como a stress indesejado. Penso que este ano foi um bom momento para testar o risco com que nos sentimos confortáveis. Alguns investidores aperceberam-se, com certeza, que uma perda de 30% numa folha de excel ou backtest é um pouco diferente quando estamos no mercado e estamos a perder o dinheiro em tempo real.

Devemos lutar contra esse excesso de confiança através da análise do que realmente está na sua génese, Ilusão de conhecimento e ilusão de controlo.

Alguns dos melhores exemplos de ilusão de conhecimento por ser “desmontado” simplesmente perguntando como as coisas aparentemente mais simples funcionam, mesmo uma bicicleta(5). As pessoas confundem familiaridade com compreensão.

Por outro lado, a ilusão de controlo, e o quanto na realidade (não) temos, é bem explorado em livros como Fooled by Randomness: A Hidden Role of Chance in Life e The Drunkard’s Walk: How randomness rules our life. O excesso de confiança nas nossas capacidades, juntamente com a necessidade de criamos uma causalidade aos vários eventos que nos rodeiam, levam-nos a subestimar a aleatoriedade da vida e a pensar que temos mais controlo do que realmente temos. Por muito bom plano que tenhamos para o nosso negócio, 2020 está a ser um ano atípico que muito provavelmente o invalidou.

Não é certo que ter conhecimento das nossas limitações faça com que magicamente deixemos as ter. Mas educarmo-nos sobre elas é definitivamente um passo na direcção certa.

 

Nota sobre o título:

A expressão 101 é retirada do mundo anglo-axônico. Está associada à versão básica, com os conceitos iniciais de um tópico. Wikipedia

 

Referências:

Luis Silva
Luis Silva

Licenciado em Economia (2006) e pós-graduado em Finanças pela Universidade Católica do Porto (2010), apercebeu-se, mais tarde, que partilhava o mesmo entusiasmo por programação.

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