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Dicas para ser rigoroso na Poupança

2021.6.21 Vítor Ribeiro, CFA

Sabemos o quão é difícil poupar. Há muitos incentivos ao consumo e o rendimento disponível nunca é suficiente para a nossa vida normal.

Mas há formas de mudar este sentimento. Exemplos, motivações e regras que nos podem ajudar a definir metas e estabelecer o hábito de poupar.

Todos conhecemos histórias de pessoas simples e humildes que deixaram fortunas e de pessoas que viveram quase sempre acima das suas possibilidades, deixando dívidas e responsabilidades para familiares e amigos. Sabemos bem os exemplos de sovinas ou forretas em oposição ao esbanjador ou mãos-largas. Mas há histórias que nos tocam mais e nos fazem pensar e tomar decisões.

 

A história notável de Ronald Read

Tive contacto com história de Ronald Read pela primeira vez neste artigo de abril de 2015 do Washington Post, escrito por Barry Ritholtz. É uma história de vida notável com lições intemporais. 

Este americano, que viveu no estado do Vermont, trabalhou num posto de gasolina e viveu de forma modesta e simples durante toda a vida. Ele não estudou economia nem trabalhava no mercado financeiro. Também não tinha rendimentos elevados. Mas Read, que morreu em 2014 com 92 anos, deixou uma fortuna a rondar os 8 milhões de dólares. Em testamento, grande parte deste património foi doado a um hospital e a uma biblioteca.

A verdade é que os seus amigos e familiares ficaram surpreendidos, até mesmo chocados, quando souberam o valor do seu património.

Com o seu estilo de vida frugal, evitava gastar dinheiro, e investia toda a sua poupança no mercado financeiro, em ações de empresas, construindo ao longo de várias décadas uma carteira diversificada com 95 posições.

 

Que lições podemos tirar deste incrível exemplo?

Este exemplo de rigor e disciplina, revela algumas lições importantes.

Desde logo a paciência e o tempo. O tempo esteve sempre do lado de Read. O seu plano foi executado durante várias décadas, com reforços sistemáticos e reinvestindo sempre os dividendos. Sem pressa, sem lucros fáceis, sem transações desnecessárias, sem realização de mais valias para assim evitar os impostos.

Read passou por várias crises e falências, mas nunca parou de investir. 

Aproveitou também da melhor maneira o poder do efeito capitalização, que abordamos neste artigo. Ao mesmo tempo que reforçava o seu património com a poupança, reinvestia também os dividendos do seu portefólio.

Mas uma vida de sacrifício, restrições e de extrema frugalidade parece também levar-nos a outras considerações, principalmente ao nível da satisfação pessoal e o equilíbrio entre a poupança e os prazeres da vida. 

Cada um deverá fazer este equilíbrio, definindo os seus próprios objetivos e motivações, mas sabendo sempre que devemos começar quanto antes a poupar, que devemos ser pacientes e deixar o tempo trabalhar a nosso favor.

 

Regras e dicas para começar a poupar

Assim, para iniciarmos o nosso plano de poupança, podemos definir algumas regras e aproveitar algumas dicas apontadas por muitos especialistas em finanças pessoais.

Desde logo, devemos definir um fundo de emergência com um valor de 6 a 12 meses dos nossos gastos anuais. Este fundo serve para situações não planeadas e de emergência. É a nossa rede de proteção e margem de segurança.

Depois, faça uma análise aos gastos mensais dos últimos meses e ao seu rendimento disponível. Defina uma poupança de, pelo menos, 20% do seu rendimento líquido. Pode começar por uma percentagem mais baixa, mas tenha esse valor como alvo. Esta poupança deve ser feita quando recebe o seu rendimento e não depois de consumir. 

Pegue na sua poupança e invista de acordo com os seus objetivos e preferências e não com base em emoções e dicas. Invista de forma eficiente e tendo em consideração o seu plano, que é único. 

Procure um estilo de vida adequado e de acordo com as suas necessidade e possibilidades. Se o carro durar 10 anos, melhor! Deve também evitar a todo o custo o financiamento via cartões de crédito e créditos pessoais.

Penso no seu património de forma integrada. Junte o seu capital financeiro, mas também o seu capital humano, os bens imobiliários e outros ativos. Depois deduza as suas responsabilidades com financiamentos e estilo de vida. Desta forma vai perceber como está o seu património e quais os próximos passos a dar.

 

O ambiente atual para investir e poupar

A atual situação das taxas de juro é preocupante para o aforrador tradicional que aplica as suas poupanças em depósitos a prazo ou outros instrumentos de capital garantido e de curto prazo. 

É comum vermos taxas de juro nominal entre 0% e 0,5% ao ano para um simples depósito a prazo. Se tivermos em consideração a inflação, que no mês de maio passado rondou os 2%, então podemos esperar uma taxa de juro real negativa de aproximadamente 2%. Quer isto dizer que a nossa poupança ajustada à inflação está a perder valor.

A inflação é um imposto silencioso. Parece que não nos afeta diretamente, mas no longo prazo, mesmo no caso de uma taxa de inflação controlada, o seu efeito pode ser devastador. 

A título de exemplo, se pegar em todo o seu dinheiro e o deixar na sua conta corrente ou o enterrar no seu quintal, o dinheiro perderia 50% do seu valor em 23 anos com uma taxa de inflação de 3%.
 

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As taxas de juro reais negativas e uma alocação de ativos incorreta, a pensar no conforto de curto prazo e não no interesse de longo prazo, torna o nosso património mais frágil e menos preparado para o futuro. Ainda mais num momento em que os sistemas de pensões atravessam um período de grande incerteza e com cada vez menos benefícios futuros estáveis e previsíveis. 

A poupança é um hábito. Se o introduzirmos na nossa rotina, a poupança torna-se sistemática e uma componente normal do dia-a-dia. Uma espécie de dieta ao consumo, que produz satisfação e segurança no longo prazo.

Tenha paciência e dê tempo ao tempo. Deixo-o trabalhar a seu favor.

Vítor Ribeiro, CFA
Vítor Ribeiro, CFA

Vítor é um CFA® Charterholder, empreendedor, melómano e com um sonho de construir um verdadeiro ecossistema de investimento e planeamento financeiro ao serviço das famílias e organizações.

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