Uma espécie de guia de investimento
Bom Ano e bons investimentos!
Durante o ano 2021 passamos por vários temas transversais ao investimento financeiro, na ótica do investidor individual, e que fazem parte do planeamento que devemos fazer quando decidimos investir dinheiro.
Património individual
Começamos por definir a gestão de património, nomeadamente na ótica do património individual, sempre com a componente comportamental bem presente. Destacamos quão importante é a fase da vida do investidor, a sua situação atual, o perfil psicológico e os tipos de personalidade. Exploramos também os vários conceitos de risco e o nível de tolerância ao risco, nomeadamente quanto à vontade e capacidade para tomar risco. A gestão do risco é muito importante na gestão de património.
Após recolher toda esta informação vamos conseguir tomar melhores decisões e responder melhor à pergunta: como investir dinheiro. Mais do que correr atrás de retornos, a nossa filosofia de investimento é ajudar o investidor a tomar decisões de investimento tendo em consideração os seus objetivos, a sua tolerância ao risco e as suas preferências e restrições. Para isso servimo-nos do mercado financeiro, que é a nossa máquina de atualização de expectativas. Sendo o local onde investidores e negócios à procura de capital se encontram para ambos satisfazerem os seus objetivos, o mercado financeiro é um indicador avançado do mundo no futuro.
Investimento Sustentável: ESG
A seguir à gestão do património individual, destacamos o investimento sustentável, nomeadamente a sigla ESG (Environmental, Social & Governance). O Investimento Sustentável, ou ESG Investing, é uma abordagem ao investimento que inclui critérios ambientais, sociais e de governo corporativo no processo de tomada de decisão com o objetivo de atingir os objetivos de longo prazo do investidor e um impacto positivo no planeta. Abordamos as diferentes estratégias de investimento sustentável, o crescimento desta forma de investir e de ver o mundo, as motivações dos investidores, o que está a mudar na indústria financeira e como podemos investir de forma sustentável.
A ética, o ambiente e a responsabilidade social fazem toda a diferença para o nosso futuro. Por isso, a nova missão é investir com impacto.
O Plano Financeiro
Assumimos a poupança como prioridade para o bem-estar financeiro individual. Por isso, o tema seguinte foi o plano financeiro. O planeamento financeiro permite a cada um definir múltiplos objetivos financeiros ao longo de diferentes períodos. Este plano torna-nos menos propensos a reagir de forma emotiva e precipitada perante situações que vão ocorrendo. Um bom planeamento financeiro significa, por isso, garantir o controlo e entender as implicações de cada tomada de decisão. Elencamos as razões para se definir um plano financeiro, a importância de definir objetivos e o papel da literacia financeira no desenvolvimento económico e na credibilidade e profissionalismo da indústria financeira e de todos os seus participantes.
Aproveitamos para deixar dicas, regras de ouro para sermos rigorosos na poupança e o papel do advisor no propósito de ajudar o investidor a desenvolver o plano financeiro personalizado e a tomar as melhores decisões de investimento para atingir os seus objetivos.
Expectativas para a economia e os mercados financeiros
Para desenvolver o plano financeiro é importante formular as expectativas para os mercados e a economia, bem como a relação que existe entre economia e mercados, nem sempre bem percebida. Também definimos as classes de ativos para a locação estratégica. Estas classes podem ser segregadas numa abordagem mais fina e detalhada em várias subclasses que podem ter como referência a situação geográfica, o setor, a indústria, o estilo e ainda fatores ou tendências específicas.
A relação entre mercados financeiros e economia é daquelas intuições que parece mais do que aquilo que realmente é. Certamente que existe relação entre economia e mercados financeiros. Estão interligados. Mas há uma diferença principal: o tempo. Tal como referem Elroy Dimson, Paul Marsh, e Mike Staunton, a “tomada de decisão dos investidores tende a antecipar as circunstâncias futuras da economia e as evidências empíricas apoiam essa afirmação. As flutuações do mercado de ações preveem mudanças no PIB, mas movimentos no PIB não preveem retornos do mercado de ações.”
A definição da estratégia para a carteira de investimento é o resultado da política de investimento e da formulação das expectativas para o mercado de capitais. Não se trata de prever a próxima recessão ou a taxa de desemprego daqui a 1 ano. Queremos construir um mosaico de informação dinâmico, direcionado ao investidor e que nos permita construir uma carteira alinhada com os seus objetivos e preferências. No longo prazo, o mosaico de informação de mercado tende a ser menos importante na evolução da carteira, sobressaindo o nosso próprio contributo. E esse contributo vem sob a forma de capacidade de poupança, tempo e otimismo.
Os principais erros no investimento
Todos os participantes do mercado - profissionais e investidores - estão sujeitos a vieses e erros. Foi este o mote para abordarmos os principais erros no processo de investimento e para explorarmos a temática das finanças comportamentais. Tal como conhecemos as nossas limitações físicas, sabemos o que somos ou não capazes de fazer, também temos de reconhecer os nossos erros e vieses cognitivos e emocionais. Se o fizermos estaremos em muito melhor condição para tomar decisões e sermos melhores investidores.
Por isso, propusemos uma carteira modificada adaptada às circunstâncias pessoais do investidor a partir dos modelos da carteira tradicional, tendo como base o conceito de diversificação. Dificilmente teremos um portefólio racional. Não somos máquinas e temos comportamentos inatos. Por isso, a ideia é conseguirmos atenuar ou até eliminar os erros e vieses de cada investidor através da construção da carteira ótima e personalizada.
A Declaração de Política de investimento
Depois de analisarmos os inputs associados ao investidor, as expectativas em relação aos mercados e economia e o processo de construção da carteira ótima, desenvolvemos o tema da declaração de política de investimento (IPS = Investment Policy Statement). Este é um documento essencial, que faz parte do plano financeiro e que tem como objetivo tornar o património de cada investidor à prova de futuro. Estabelece orientações, regras e responsabilidades. Percebe o nosso comportamento enquanto investidores, as razões para investir, separa o ruído da informação e entende o funcionamento da indústria financeira.
Para esta declaração, precisamos de saber também como definir objetivos de retorno e de risco e quais as preferências e restrições do investidor. Terminamos este tema com um exemplo de IPS e do processo a desenvolver no caso de alterações e atualização da IPS.
Future Analyzer: uma ferramenta de finanças computacionais
Na génese da Future Proof está a vontade de trazer para a gestão de patrimónios e para o advising, para além das finanças comportamentais, as ferramentas de finanças computacionais ou da engenharia financeira, como também é conhecida. Apesar de ser associado a crises, complexidade e desregulação, a verdade é que as finanças computacionais não devem ser vistas como o problema. Aliás, a boa utilização destas ferramentas permite melhorar a performance da carteira, ao nível do risco e retorno, produzindo carteiras e resultados mais adequados e consistentes com os interesses individuais de cada investidor. E não deve estar só disponível para os chamados investidores institucionais ou bancos de investimento, pois acabam por desvirtuar e tornar o mercado financeiro mais assimétrico.
O Future Analyzer é o resultado inicial desta abordagem que pretende evoluir para um ecossistema alargado de investimento ao serviço de todos os investidores. Trata-se de um serviço puramente quantitativo que utiliza os inputs transmitidos pelos investidores (a carteira atual, por exemplo) para fazer uma análise imparcial e rigorosa. A evolução natural, que já está em ambiente de testes, é a PortfolYou.
Este desenvolvimento está assente na democratização do investimento e das ferramentas de análise, na presença cada vez mais intensa dos investidores de retalho na indústria de investimento e nas plataformas de trading. Por isso, fizemos uma análise ao tema do investimento e da especulação como base para o investidor DIY (do it yourself).
Produtos financeiros e Inflação: alternativas ao dinheiro parado
O grande tema do ano foi a inflação. É um tema nem sempre bem entendido, mas de extrema importância para a carteira de investimento e para a poupança de longo prazo. Por isso dedicamos ao longo deste ano alguns artigos dedicados ao tema. No artigo Todos os Caminhos vão dar à Inflação analisamos as várias perspetivas e os fatores que poderiam provocar a subida da taxa de inflação. E já em 2020 tínhamos lançado argumentos em relação a inflação ou deflação. Mas para o investidor, decidimos uma abordagem mais pragmática com o tema do dinheiro parado é dinheiro perdido e os perigos da inflação para a poupança. A inflação pode parecer que não nos afeta diretamente, mas no longo prazo, mesmo no caso de uma taxa de inflação controlada, o seu efeito pode ser devastador.
Com o intuito de dar a conhecer alternativas ao dinheiro parado e a responder a questões práticas como em que produtos financeiros podemos investir, fizemos um conjunto de artigos relacionados com imobiliário, PPR, ETF e fundos de investimento. Estes instrumentos, quando bem utilizados e selecionados, podem ajudar-nos a atingir objetivos, a combater a inflação e a preparar melhor o nosso futuro financeiro. Longe vão os tempos do típico depósito a prazo ou até do seguro de capitalização de capital e rendimento garantidos.
A evolução do mundo financeiro, do ambiente macro e da própria literacia financeira, levou ao aparecimento destes instrumentos que, hoje em dia, já se consideram ao alcance de qualquer aforrador ou investidor.
Mas a evolução não ficou por aqui. Entretanto, foram aparecendo muitas outras estruturas, algumas reguladas outras não, normalmente associadas a disrupções tecnológicas, algoritmos, financiamento colaborativo e criptomoedas. Também ao nível dos investimentos reais têm aparecido alternativas, ligadas a arte, imobiliário e até direitos de autor (veja-se a venda dos direitos de autor de compositores como Bruce Springsteen ou Bob Dylan).
As fintechs estão a desempenhar um papel fundamental na abertura de novos caminhos para o investidor. Isto não significa que o caminho seja isento de riscos, pelo contrário. Significa, sim, que há mais oportunidades e mais opções para construir uma carteira diversificada e orientada para objetivos.
A típica carteira composta por depósitos, imobiliário, obrigações e ações, poderá evoluir para carteiras bem diferentes no futuro, com inclusão de criptomoedas, NFT, peer-to-peer e crowdfunding e até investimentos em private equities (até há pouco tempo inalcançável ao investidor comum) e outros investimentos reais (como a arte ou direitos de autor).
O fim do ano é a altura ideal para fazer um balanço e tomar decisões.
Os mercados financeiros, na generalidade, tiveram um comportamento muito positivo no último ano, mas, entretanto, começamos a sentir um aumento da volatilidade e da incerteza em relação a temas tão importantes como taxas de juro, inflação ou lucros futuros das empresas.
Por um lado, os bancos centrais estão pressionados a reduzir os estímulos financeiros, por outro, as valorizações dos ativos dispararam para sucessivos máximos históricos e vivemos, em grande parte do mundo ocidental, com taxas de juro muito baixas ou negativas e uma perspetiva cada vez mais real de inflação acima da média.
Então, o que devemos fazer em relação à carteira de investimento?
O guia que fizemos neste artigo pode e deve servir de base, sempre. Esperemos que tenha sido útil e que venha a ser útil para o futuro.
Vítor é um CFA® Charterholder, empreendedor, melómano e com um sonho de construir um verdadeiro ecossistema de investimento e planeamento financeiro ao serviço das famílias e organizações.
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