O Turismo está mal e ainda vai ficar pior…Antes de melhorar!
Outro dia, ao almoço com um amigo no restaurante habitual, reparamos que havia robalo. O meu amigo achou estranho. Sendo um bom restaurante não é normal haver robalo do mar para almoço e como prato do dia. O dono do restaurante explicou-nos que nos últimos meses tem tido acesso a muito mais peixe do que era habitual.
Não poderá explicar tudo, mas isto é, certamente, um efeito colateral do turismo.
O Turismo está, de facto, mal e ainda vai ficar pior…antes de melhorar. Este poderá ser o mote para uma atividade económica em ebulição.
Num artigo de agosto no FT, Rana Foroohar escrevia que o colapso do Turismo poderia desencadear a próxima fase da crise económica.
O turismo é uma atividade multissectorial e transversal que representa pelo menos 10% da economia europeia, de forma direta.
A par da pandemia, a revolução verde e sustentável em curso vai acelerar uma mudança de paradigma no turismo.
Fonte: União Europeia
Se tivermos em consideração o benchmark de classificação da indústria, ICB, as atividades mais diretamente ligadas ao turismo estão integradas na indústria de consumo discricionário, setor viagens e lazer e incluem as companhias aéreas, agentes, operadores, cruzeiros e atividades turísticas, casino e jogo, operadores e gestão de empreendimentos turísticos, eventos e serviços de entretenimento e restaurantes e bares.
Contudo, há todo um conjunto de indústrias e setores que, de forma indireta, também se relaciona com o turismo, como o comércio, o imobiliário, os transportes e as rent-a-cars, e também a saúde, através do turismo de saúde, e a educação.
A verdade é que o turismo precisa de se reinventar. Antes mesmo da pandemia já havia movimentos de consolidação e uma cada vez maior presença da tecnologia nas atividades turísticas. Agora, parece inevitável uma reestruturação ampla de toda a cadeia de valor, face uma perspetiva de recuperação lenta e incerta.
No gráfico abaixo podemos ver uma comparação entre os índices Stoxx Europe 600 (SXXR) e o índice Stoxx Europe 600 Travel & Leisure (SXTR).
O Turismo como indicador avançado (Leading indicador)
Os indicadores económicos, de uma forma resumida, podem agrupar-se em lagging, coincident e leading indicadors. Em português podemos designá-los de indicadores atrasados, coincidentes e avançados. Por exemplo, um indicador atrasado é o crescimento do PIB, pois representa a situação económica no passado.
Um indicador coincidente pode ser os pedidos semanais de subsídio de desemprego.
Para os indicadores avançados podemos dar como exemplo a evolução dos índices acionistas como Stoxx Europe 600 na Europa ou o S&P500 nos EUA.
A atividade turística pode também servir como um indicador avançado do estado de uma economia. Nomeadamente ao nível das reservas de voos, hotéis, espetáculos e outras manifestações culturais ou de lazer.
Um aumento das reservas para os próximos meses significa um aumento da confiança dos consumidores e um indicador de melhoria da situação económica.
Isto mesmo parece estar a ser analisado em relação à economia chinesa.
Neste artigo da Economist, e tendo em consideração a dificuldade e alguma desconfiança nos dados estatísticos da economia chinesa, outros indicadores estão a sobressair. O turismo é um desses indicadores. Com os parques de diversão, as atrações turísticas e o movimento frenético em termos de transportes, não é difícil acreditar que a economia está forte e em crescimento acelerado.
As viagens sem destino
O setor, e as atividades com ele relacionadas, vai ser reestruturado, mas as pessoas não perderam o interesse em viajar, explorar, descobrir e descansar.
Basta ver a recente tendência para os voos para lado nenhum, uma espécie de sightseeing flight, com experiências gastronómicas e guia incluído.
Imagine a seguinte experiência (staycation):
- Um voo para lado nenhum que parte e chega ao mesmo aeroporto algumas horas depois. Durante a viagem podem usufruir de tudo o que é normal numa viagem de longo curso.
- À chegada terá um transfere à sua espera que o levará para o hotel
- Durante a estadia terá um conjunto de atividades como ida a museus, restaurantes e até um cruzeiro
- No final, faz mais uma viagem, desta vez de comboio, com saída e destino no mesmo local.
Tudo isto na mesma cidade de onde partiu e onde vai chegar.
Exemplos destes estão neste artigo da CNBC, onde algumas empresas do setor em países como Singapura ou Japão apresentam estas alternativas inovadoras e arrojadas.
A posição dos governos dos países mais dependentes do turismo vai também influenciar o futuro económico desses países.
Continuar a apoiar e a subsidiar atividades de baixo valor acrescentado, muito sazonais, sem inovação tecnológica e sustentabilidade ambiental e muito dependentes de fatores que não conseguimos controlar, pode ser um gasto e não um investimento.
Devemos reestruturar em vez de adiar. Inovar em vez de subsidiar. Com estas premissas podemos voltar a ter um turismo forte e preponderante na economia.
Por todas estas razões o turismo é tão importante. Está mal, mas tem de ficar melhor.
Vítor é um CFA® Charterholder, empreendedor, melómano e com um sonho de construir um verdadeiro ecossistema de investimento e planeamento financeiro ao serviço das famílias e organizações.
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