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O que está a mudar na Indústria Financeira?

2021.5.24 Vítor Ribeiro, CFA

A forma como o ESG emergiu na indústria financeira e mercados foi, de certa forma, surpreendente. A pandemia da COVID-19 acelerou o processo, a transferência de riqueza revelou novas motivações e o mundo clama pela sustentabilidade como o novo normal.

Após um 2020 de intensa mudança a indústria financeira está em pleno na disponibilização de ferramentas, modelos, instrumentos e análises que relevam o conceito e a importância do ESG nas carteiras de investimento.

 

UMA MUDANÇA TRANSVERSAL

O CFA Institute, a associação global de profissionais de investimento que define o padrão de excelência profissional e credenciais da indústria financeira, lançou o primeiro certificado global de investimento ESG. Este novo programa de educação global estabelece padrões, permitindo que os profissionais de investimento analisem e integrem fatores ESG no seu processo de investimento.

É um primeiro passo para estabelecer um conjunto de regras, procedimentos e métricas de práticas sustentáveis no processo de investimento, contribuindo, em última análise, para uma análise financeira e patrimonial mais holística e integrada.

Este passo, dado por uma instituição de referência, é também fundamental dada a ambiguidade que a sigla ESG e as próprias definições de sustentabilidade e investimento com impacto transportam.

De facto, nos últimos meses surgiram vários produtos de investimento, novos ou renomeados, sob forma de ETF, fundos de investimento ou mesmo obrigações, com o selo ESG, da sustentabilidade e socialmente responsáveis.

A criação de regras mais uniformes e precisas parece ser então o próximo passo para sustentar este conceito e torná-lo efetivo e decisivo no processo de investimento, principalmente do lado do investimento passivo (investimento que passa por seguir um índice), onde a seleção de ativos é feita de acordo com o índice de referência.

Também por esta razão, as primeiras instituições a lançar métricas e ratings para o ESG tenham sido as empresas de índices, como a FTSE Russell, MSCI ou a Sustainalytics, pois delas depende a indústria dos organismos de investimento coletivo com uma abordagem passiva aos mercados, como os ETF (Exchange-traded funds) e os fundos-índice, popularizados pela Vanguard.

 

ESG COMO COMO FATOR POSITIVO OU PLACEBO E DISTRAÇÃO?

Tal como referido por John Authers na sua newsletter Points of Return, as classificações utilizadas para índices ESG são cómicas e variadas. O gráfico a seguir demonstra o grau de correlação entre as classificações da FTSE Russell, MSCI e Sustainalytics.

Esta análise dos académicos Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton para o Credit Suisse Global Investment Returns Yearbook de 2020, sugere que é ainda perigoso tentar usar estas métricas no investimento passivo.

Tradicionalmente, para lidar com uma externalidade negativa como a poluição, a receita era torná-la mais cara através da emissão de taxas de emissão de carbono, multas ambientais ou licenças.

Contudo, esta abordagem não premiava as empresas ou indústrias que apresentavam tecnologia ou produtos para solucionar o problema. O sucesso da Tesla de Elon Musk ou da Ark de Cathie Wood, mostra que trabalhar de forma positiva com base em metas sustentáveis tem futuro e poderá ser visto como uma opção devidamente remunerada em relação ao risco. 

Perante este cenário, e à falta da tal abordagem sistematizada e consolidada, a indústria tem virado o discurso e o marketing para o impacto positivo.

Contudo, estas siglas, teoricamente importantes, são muitas vezes o pretexto para fazer crescer o número de produtos disponíveis e aumentar o volume de negócios da indústria.

A indústria, sempre envolta em exageros e estratégias opacas, não pode aproveitar esta tendência apenas para criar produtos e oportunidades de receita no curto prazo, transmitindo uma ideia de impacto e responsabilidade, mas que serve apenas de distração ao real combate à crise climática, à desigualdade social e às questões éticas.

Para evitar esta ilusão e o vazio de resultados, deve abrir a informação, torná-la mais personalizada e desenvolver estruturas mais flexíveis e integradas. Ir de encontro às motivações dos investidores e apresentar critérios realmente independentes para avaliar as empresas e produtos financeiros.

 

A EMISSÃO DE PRODUTOS ESG E AS MÉTRICAS UTILIZADAS

Em relação à emissão de instrumentos ESG, a Europa é neste momento líder na criação de ESG ETF. É também nesta região que os ESG ETF têm ratings mais altos.

As estratégias utilizadas são várias, desde os valores e abordagens alinhadas com os investidores até à integração de critérios ESG para diminuir o risco de longo prazo a eles associados, os investimentos temáticos e de impacto. 

Por isso, não é de estranhar o crescimento notável do fluxo de investimento nos ESG ETF, conforme gráfico a seguir:

A emissão de obrigações verdes (green bonds) é também uma realidade cada vez mais presente. Já é possível analisar em diversas plataformas as obrigações emitidas que estão mais alinhadas com os objetivos sustentáveis. Esses emitentes, que cumprem esses critérios e essa abordagem, trazem vantagens a ambos os lados do mercado: investidores e emitentes.

As green bonds financiam projetos dirigidos para a eficiência energética, prevenção da poluição, agricultura sustentável, pesca e silvicultura, proteção dos ecossistemas aquáticos e terrestres, transporte limpo, água limpa e gestão sustentável da água.

 

EXEMPLO DAS MÉTRICAS UTILIZADAS NUM ESG ETF

Consultando a informação de um ETF é possível analisar as características sustentáveis do produto, alternativas mais sustentáveis e negócios específicos nos quais o ETF está envolvido.

Tomemos como exemplo o iShares Core MSCI World UCITS ETF, um dos ETF mais conhecidos do mercado. É possível analisar alternativas SRI (investimento socialmente responsável) e ESG, e também consultar as métricas e características de sustentabilidade.

As métricas são baseadas no MSCI ESG Fund Ratings e nelas podemos ver o rating do ETF (entre AAA-CCC), uma análise aos scorings de qualidade em relação aos pares, a percentagem das empresas que compõem o índice que têm rating ESG e a exposição do fundo a empresas intensivas em carbono.

 

Na secção de métricas de envolvimento de negócios, os investidores podem obter uma visão mais abrangente das atividades específicas nas quais um fundo está exposto através dos seus investimentos:

  • Armas nucleares, polémicas e produzidas para a sociedade civil
  • Tabaco
  • Empresas que compõem o fundo que não cumpriram com os princípios UN Global Compact
  • Produção em centrais de carvão
  • Extração de petróleo em areias betuminosas.

Assim, a realidade é que os investidores têm agora mais opções para investir do lado sustentável e responsável, mas também mais complexidade para tomar essas decisões de investimento.

A indústria financeira deve assumir o seu papel fundamental na transparência, em métricas compreensíveis e claras e na certeza de estar nos dois lados: no buy side e no sell side.

 

Como refere Sérgio Godinho:

“No novo normal
Nunca nada vai ser
Nunca igual”.

Vítor Ribeiro, CFA
Vítor Ribeiro, CFA

Vítor é um CFA® Charterholder, empreendedor, melómano e com um sonho de construir um verdadeiro ecossistema de investimento e planeamento financeiro ao serviço das famílias e organizações.

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